Fabaceae

Amburana acreana (Ducke) A.C.Sm.

Como citar:

Eduardo Fernandez; Mário Gomes. 2020. Amburana acreana (Fabaceae). Lista Vermelha da Flora Brasileira: Centro Nacional de Conservação da Flora/ Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

EN

EOO:

332.921,151 Km2

AOO:

36,00 Km2

Endêmica do Brasil:

Detalhes:

A espécie não é endêmica do Brasil, com ocorrência na Bolívia e Peru. No Brasil, apresenta distribuição: no estado do Acre — nos municípios Brasiléia, Mâncio Lima, Xapuri — e no estado de Rondônia — nos municípios Costa Marques, Itapuã Do Oeste, Machadinho D'Oeste. Na Flora do Brasil 2020 está registrada ocorrência para o Rio de Janeiro (cultivo no JBRJ) e Espírito Santo, e possibilidade de ocorrência em Mato Grosso.

Avaliação de risco:

Ano de avaliação: 2020
Avaliador: Eduardo Fernandez
Revisor: Mário Gomes
Critério: A2cd;B2ab(i,ii,iii,iv,v)
Categoria: EN
Justificativa:

Árvore de grande porte com mais de 30 m, não é endêmica do Brasil (Seleme et al., 2015). Popularmente conhecida por amburana, amburana-de-cheiro, cerejeira-amarela, cerejeira, cumaru-de-cheiro, entre outros, foi documentada em Floresta de Terra-Firme e áreas inundadas periodicamente associadas a Amazônia nos estados do Acre, municípios de Brasiléia, Mâncio Lima e Xapuri, Rondônia, municípios de Costa Marques, Itapuã Do Oeste e Machadinho D'Oeste, e possivelmente, no Mato Grosso (Seleme et al., 2015). Apresenta distibuição pontual exclusiva a fitofisonomia florestais, AOO=36 km² e quatro situações de ameça, considerando-se as taxas de desmatamento verificadas nas extremidades de sua EOO conhecida. A. acreana destaca-se dentre as espécies florestais nativas da Amazônia costumeiramente comercializadas em âmbito nacional e internacional, muito explorada por sua madeira, usada na fabricação de móveis de luxo (Silva, 2004). Citada como abundante no passado, estudos populacionais atuais apontam um declínio acentuado no número de indivíduos, sendo consierada extinta (ou quase) nas áreas de ocorrência de maior pressão exploratória (Dubois, 1986; Oliveira, 1995; Schulze et al., 2008). As sementes de A. acreana também são colhidas na natureza e usadas para extrair óleo essencial (Tropical Plants Database, 2019), potencialmente afetando o ciclo reporuditvo do táxon se tal prática for feita de forma descontrolada. Somente no estado do Acre, na região do Vale do Acre, produção estimada de madeira foi de 348 mil m³ (IBAMA, 2006). Além da exploração ilegal de madeira, as causas do desmatamento estão diretamente ligadas ao crescimento da pecuária bovina e o consequente estabelecimento de patagens em ambos os estados de ocorrência (IBAMA, 2006; SEDAM, 2015). Mesmo dentro do Parque Nacional da Serra do Divisor, uma das últimas áreas primitivas de ocorrência de A. acreana no Acre, houve aumento do desmatamento em função da ampliação das atividades agriculturais e pecuárias a partir da redução das atividades extrativistas, além de corte seletivo (legal e ilegal) de madeira, e um consequente aumento no fluxo migratório para a região (MMA/ IBAMA, 2002). O Tempo de Geração de uma árvore deste porte é estimado entre 35 a 40 anos,; assim, suspeita-se que pelo menos 50% da população tenha sido eliminada frente ao acentuado corte seletivo ilegal e índices elevados de retirada na natureza pelo seu valor comercial. É conhecida por poucas coletas atualmente, a maior parte realizada fora de Unidades de Conservação. Diante desse cenário, infere-se ainda declínio contínuo em EOO, AOO, extensão e qualidade de habitat, no número de situações de ameaça e no número de indivíduos maduros. Assim, A. acreana foi considerada Em Perigo (EN) nesta ocasião. Recomendam-se ações de pesquisa (censo e tendências populacionais, estudos de viabilidade populacional, buscas direcionadas por áreas de ocorrência não documentada) e conservação (Plano de Ação, garantia de efetiidade de Unidade de Conservação, Plano de Manejo Sustentável, Ações de cultivo para aliviar pressão nos estoques naturais, fiscalização) urgentes a fim de se garantir sua perpetuação na natureza no futuro, pois as pressões verificadas ao longo de sua distribuição podem leva-la a completa extinção. É considerada uma das espécies madeireiras prioritárias para programa de conservação de recursos genéticos na Amazônia (Dubois, 1986).

Último avistamento: 2016
Possivelmente extinta? Não
Severamente fragmentada? Sim
Razão para reavaliação? Other
Justificativa para reavaliação:

A espécie foi avaliada pelo CNCFlora em 2013 (Martinelli e Moraes, 2013) e consta como Vulnerável (VU) na Portaria MMA 443/2014 (MMA, 2014), sendo então necessário que tenha seu estado de conservação reavaliado após cinco anos da última avaliação.

Houve mudança de categoria: Sim
Histórico:
Ano da valiação Categoria
2012 VU

Perfil da espécie:

Obra princeps:

Espécie descrita em: Trop. Woods 62: 30 (1940). Amburana acreana pode ser distinguida das outras demais espécies pelo caule ferrugíneo e mais escuro (versus castanho em A. cearensis e A. erythrosperma) (Seleme, 2020) Nome vulgar: amburana, amburana-de-cheiro, cerejeira-amarela, cerejeira, cumaru-de-cheiro (Fermino e Scherwinski-Pereira, 2012; Seleme, 2020)

Valor econômico:

Potencial valor econômico: Sim
Detalhes: Dentre as espécies florestais nativas da Amazônia costumeiramente comercializadas, tanto em âmbito nacional como internacional, destaca-se a cerejeira Amburana acreana (Ducke) A.C. Smith a qual possui elevado valor econômico (Silva, 2004). A árvore é explorada comercialmente por sua madeira, enquanto suas sementes também são colhidas na natureza e usadas para extrair um óleo essencial. Ela tem sido muito explorada por sua madeira, usada na fabricação de móveis de luxo, levando a uma drástica redução nos níveis populacionais (Tropical Plants Database, 2019). ]

População:

Detalhes: Abundante no passado, Schulze et al. (2008) encontraram na Faz. Imaculada (Chupinguaia, Rondônia) 28 ind/ha (>=20cm) e 19 ind/ha (>=50cm); na Faz. São Jorge (Sena Madureira, Acre) 45 ind/ha (>=20cm) e 29 ind/ha (>=50cm) e na Faz. Seringal (Líbrea, Amazonas) 10 ind/ha (>=20cm) e 9 ind/ha. Não existem dados populacionais recentes.
Referências:
  1. Schulze, M., Grogan, J., Landis, R., Vidal, E., 2008. How rare is too rare to harvest? Management challenges posed by timber species occurring at low densities in the Brazilian Amazon. Forest Ecology and Management, 256(7): 1443-1457.

Ecologia:

Substrato: terrestrial
Forma de vida: tree
Biomas: Amazônia
Vegetação: Floresta de Terra-Firme, Floresta Ombrófila (Floresta Pluvial)
Habitats: 1.6 Subtropical/Tropical Moist Lowland Forest
Detalhes: Árvore de 30 m, que habita a Amazônia, nas margens ou perto dos rios, na Floresta Ombrófila, geralmente Floresta de Terra Firme, mas pode ocorrer em áreas inundadas periodicamente (Seleme et al., 2015).
Referências:
  1. Seleme, E.P., Lewis, G.P., Stirton, C., Sartori, A.L.B., Mansano, V.F., 2015. A Taxonomic Review and a New Species of The South American Woody Genus Amburana (Leguminosae, Papilionoideae). Phytotaxa 212 (4): 249–263.

Reprodução:

Detalhes: Floração: em maio, em ramos desfolhados. Frutificação: os frutos maduros ocorrem em julho, no Acre; de agosto a setembro, em Mato Grosso, e de agosto a outubro, em Rondônia. Dispersão de frutos e sementes: anemocórica. As sementes são carregadas pelo vento, caindo longe da planta-mãe.
Sistema sexual: monoecious

Ameaças (4):

Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.2 Ecosystem degradation 5.3.2 Intentional use: large scale (species being assessed is the target) [harvest] mature individuals past,present,future national very high
À medida que as madeiras nobres vão escasseando nas florestas às margens das estradas e rios, a frente de exploração vai continuamente avançando para áreas mais distantes, chegando até a 120 km no interior da floresta (Oliveira, 1997). Esta tendência ilustra o caráter itinerante e transitório da exploração madeireira no estado, utilizando o recurso florestal sem manejo adequado e sem reposição. Esta atividade caracteriza-se também por ser altamente seletiva, aproveitando apenas as espécies de maior valor no mercado como o mogno, a cerejeira, a castanheira, o cumaru-ferro, o angelim, cedro e o jatobá, com baixíssimo aproveitamento de outras madeiras, provocando a extinção local de algumas espécies. Na região do Vale do Acre, no ano de 2004, a produção estimada de madeira foi de 348 mil m³ (IBAMA, 2006)
Referências:
  1. Oliveira, S.M., 1997. Extração de Madeira no Município de Rio Branco. Rio Branco, AC.
  2. IBAMA, 2006. Plano de Manejo da Reserva Extrativista Chico Mendes. http://www4.icmbio.gov.br/portal/images/stories/plano-de-manejo/plano_de_manejo_reserva_extrativista_chico_mendes.pdf
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Ecosystem conversion 2.3.4 Scale Unknown/Unrecorded habitat past,present,future national very high
As causas do desmatamento estão diretamente ligadas ao crescimento da pecuária bovina na área da Reserva Extrativista Chico Mendes., além das queimadas e o mau planejamento da produção agrícola de alguns moradores. Extração ilegal e venda de madeira são uma consequência da baixa renda familiar e falta de opções para produção extrativista sustentável levando ao depauperamento da floresta (IBAMA, 2006). Os principais impactos ambientais resultantes das atividades econômicas desenvolvidas na região adjacente ao Parque Nacional da Serra do Divisor são negativos: aumento do desmatamento em função da ampliação das atividades agriculturais e pecuárias a partir da redução das atividades extrativistas, além de corte seletivo (legal e ilegal) de madeira, e um consequente aumento no fluxo migratório para a região, que pode implicar em aumento das pressões em futuro próximo (MMA/ IBAMA, 2002).
Referências:
  1. IBAMA, 2006. Plano de Manejo da Reserva Extrativista Chico Mendes. http://www4.icmbio.gov.br/portal/images/stories/plano-de-manejo/plano_de_manejo_reserva_extrativista_chico_mendes.pdf
  2. IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, 2002. Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra do Divisor. URL http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/docs-planos-de-manejo/parna_serra_divisor_diagnostico.pdf
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Ecosystem conversion 2.3.3 Agro-industry grazing, ranching or farming habitat past,present,future national very high
O estado de Rondônia abriga um crescente rebanho bovino que hoje chega a cerca de 12 milhões de cabeças que ocupa perto de 6 milhões de hectares plantados com gramíneas (SEDAM, 2015).
Referências:
  1. SEDAM - Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental, 2015. Plano de Prevenção, Controle e Alternativas Sustentáveis ao Desmatamento em Rondônia 2009-2015. URL https://www.mma.gov.br/estruturas/168/_arquivos/plano_estadual_de_prevenao_e_controle_do_desmatamento_de_rondnia_168.pdf (acesso em 30 de setembro de 2019).
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
2.1 Species mortality 5.3.2 Intentional use: large scale (species being assessed is the target) [harvest] habitat,locality,mature individuals,occurrence,occupancy past,present,future national very high
A Amburana acreana está sendo sistematicamente explorada em todas as áreas acessíveis onde ocorre; já é extinta (ou quase) nas áreas de ocorrência de maior pressão exploratória. No Brasil, essa espécie está na ista oficial, categoria vulnerável (Brasil, 1992) e das espécies madeireiras prioritárias para programa de conservação de recursos genéticos na Amazônia (Dubois, 1986). No Acre, é uma das espécies mais consumidas pelo mercado madeireiro e submetida à maior pressão de exploração seletiva (Oliveira, 1995).
Referências:
  1. Brasil, 1992. Portaria nº. 06-N, de 15 de janeiro de 1992. Lista oficial de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 23 jan. 1992. p. 870-872
  2. Dubois, J., 1986. Recursos genéticos florestais: espécies nativas da Amazônia. Boletim FBCN, Rio de Janeiro, v. 21, p. 45-71.
  3. Oliveira, L. C., 1995. Potencial para coleta de sementes florestais em áreas de reserva florestal legal de pequenas e médias propriedades do Acre. Informativo ABRATES, Brasília, DF, v. 5, n. 2, p. 170.

Ações de conservação (3):

Ação Situação
5.1.1 International level on going
A espécie está listada como vulnerável na Lista Vermelha da IUCN (2009)
Ação Situação
1 Land/water protection on going
A espécie foi coletada no Parque Nacional da Serra do Divisor (AC), Floresta Nacional do Jamaria (RO)
Ação Situação
5.1.2 National level on going
A espécie foi avaliada como Vulnerável (VU) A2cd e está incluída no ANEXO I da Lista Nacional Oficial de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção (MMA, 2014).
Referências:
  1. MMA - Ministério do Meio Ambiente, 2014. Anexo I. Lista Nacional Oficial de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção. Portaria MMA no 443/ 2014. URL https://ckan.jbrj.gov.br/dataset/download/especiesportaria443.pdf (acesso em 14 de abril 2019 ).

Ações de conservação (3):

Uso Proveniência Recurso
9. Construction/structural materials natural stalk
A árvore é explorada comercialmente por sua madeira, enquanto suas sementes também são colhidas na natureza e usadas para extrair um óleo essencial. Ela tem sido muito explorada por sua madeira, usada na fabricação de móveis de luxo, levando a uma drástica redução nos níveis populacionais (Tropical Plants Database, 2019).
Referências:
  1. Ken Fern, 2020. Tropical Plants Database. tropical.theferns.info. URL http://tropical.theferns.info/ (acesso em 17 de março de 2020).
Uso Proveniência Recurso
5. Manufacturing chemicals natural seed
As sementes também são colhidas na natureza e usadas para extrair um óleo essencial (Tropical Plants Database, 2019).
Referências:
  1. Ken Fern, 2020. Tropical Plants Database. tropical.theferns.info. URL http://tropical.theferns.info/ (acesso em 17 de março de 2020).
Uso Proveniência Recurso
3. Medicine - human and veterinary natural stalk
A casca e as sementes são regionalmente usadas em aplicações em medicina caseira, para fins curativos da cefaléia e como peitoral. Servem, ainda, para perfumar o rapé e a roupa. Quando adicionadas à cachaça, tornam essa bebida mais apreciada e de uso muito difundido. O aroma é devido à presença de cumarina (Saddi, 1977). No Acre, a casca das árvores de cerejeira-da-amazônia é empregada como medicamento contra anemia e gripe, e na preparação de bebida alcoólica. Com as sementes é preparado o rapé usado para aliviar constipação nasal, cefaléias (dores de cabeça) e de dente.
Referências:
  1. Saddi, N., 1977. Primeira contribuição sobre a flora de Humboldt (Aripuanã, Mato Grosso). in Congresso Nacional de Botânica, 26., 1975, Rio de Janeiro. Trabalhos... Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, p. 519-568.